Cotovelo esquerdo sobre a mesa, bochecha sobre a mão esquerda, olhos fixos na tela. O dedo, de tempos em tempos, dá sinal de vida e aperta F5 categoricamente. A página recarrega e – ainda nenhum email.
Ele inspira fundo, num turbilhão de emoções. Angústia, alívio, raiva, desesperança, até culminar numa preguicinha quase indiferente. Mas isso tudo é disfarce, que cai enquanto a página está sendo recarregada e ele prende a respiração, se aproximando milímetros do monitor.
E então, para torturá-lo e consolá-lo, o email chega. Está lá, em negrito, com a data do dia e o horário de segundos atrás. O assunto não lhe diz nada – apenas uma palavra padronizada e insossa. Ele clica no email, abre-o quase sem fôlego e corre os olhos pela página, de maneira um tanto cômica, até. No desespero, não consegue achar nada coerente, e então recorre a ler desde a primeira palavra.
"Infelizmente..."
Basta de leitura. Basta de pensamentos, também. Sua resposta se resume a encarar a tela com o olhar vazio, sem conseguir desviar os olhos daquela palavra. Mas o choque dura pouco, porque em pouco tempo vem aquela mesma vozinha que o atormentou durante toda a adolescência, para torturá-lo mais um pouco: "Sabia que não ia passar".
"Sabia nada, realmente achei que ia dar." - não é sua autoestima respondendo, é sua frustração. O que é que tinha feito de errado? Tudo parecia ter ido tão bem. E as duas vozes ficam em sua briga ferrenha enquanto ele se força a ler o resto do email, tentando sufocá-las e pensar madura e racionalmente.
O telefone toca. Ele escuta, mas não registra que escutou. Toca de novo, e então ele se lembra do protocolo. Interrompe a leitura e pega o telefone.
- Passamos?! – reconhece a voz, mas não o tom de pergunta.
- Você e quem?
- O quê?
- Você e quem mais passaram?
- Ah... – a voz do telefone soa desanimada e um pouco arrependida. – Então não deu, né?
Ele tem que umedecer os lábios com a ponta da língua para responder.
- Não. – a palavra parece ter milhares de sílabas e soar eternamente no ar. – Aqui, te ligo depois.
Ele desliga, antes que o amigo tenha tempo de começar o discurso encorajador. Dá uma olhada no email. A primeira palavra parece estar em negrito, vermelha, tamanho 72. Ele fecha o email, desliga o computador, levanta-se violentamente da cadeira, respira fundo...
- Ah, que se foda.
...e sai do quarto a passos lentos e hesitantes, com o rosto abaixado, sem saber muito bem aonde ia.